Bolsonaro não conhece a história brasileira, não conhece Rodrigues Alves
“Nossa saúde e de nossos familiares devem ser preservados. O momento é de união, serenidade e bom senso”
A frase que antecede este editorial foi dita pelo presidente da República Jair Bolsonaro na noite de quinta-feira (12) durante uma transmissão oficial na rede nacional de rádio e televisão. Na oportunidade, o chefe do Executivo Federal falava aos seus apoiadores sobre a não realização de manifestações previstas para o domingo (15) em todo o país. Pediu ele o adiamento dos protestos por conta da pandemia do novo coronavírus, um mau que vem abalando o mundo todo neste primeiro trimestre de 2020.
Tais palavras ditas pela principal autoridade política do país não foram escutadas, ou melhor, não foram acatadas pelos seus fiéis apoiadores. Ignorando a recomendação do Ministério da Saúde para evitar aglomerações públicas, dezenas de cidadãos foram às ruas no dia previsto e até mesmo àquele que outrora apareceu na televisão pedindo para o povo não ir deu o ‘ar da graça’.
Bolsonaro não só esteve presente no protesto em seu favor, em frente ao Planalto, como também cumprimentou os participantes, tirou fotos, beijou rostos, entre outros tipos de contato direto. Vale lembrar que dias antes integrantes de sua comitiva oficial foram diagnosticados com o novo coronavírus após o retorno de uma viagem aos Estados Unidos. Jair fez o exame e teve o resultado negativado para o vírus.
Ao invés de servir de exemplo para uma nação em pânico diante de uma doença desconhecida e que tem provocado caos em países de primeiro mundo como a China e a Itália, o presidente vai na contramão do correto, ignora suas próprias palavras oficiais, ignora a recomendação de seu próprio ministro da Saúde, esquece a sua vulnerabilidade e esquece que pode – ainda que sem querer – transmitir a doença ao próximo.
Mais do que isso, Jair Bolsonaro parece não conhecer a história brasileira, país que governa desde 2019, curiosamente o ano em que marcou o centenário da morte de Francisco de Paula Rodrigues Alves, ou simplesmente Rodrigues Alves, quinto presidente da república brasileira, morto aos 70 anos em decorrência da Gripe Espanhola, por sua vez, um tipo de vírus influenza que contaminou mais de 500 milhões de pessoas (quase 27% da população mundial na época), fazendo entre 17 e 50 milhões de vítimas pelo mundo.
Rodrigues Alves foi eleito presidente do Brasil pela primeira vez em 1 de março de 1902 e, em 15 de novembro de 1918 acabou não sendo empossado para um segundo mandato por ter contraindo a Gripe Espanhola, vindo a falecer no dia 16 de janeiro de 1919. A doença é até hoje conhecida por ter sido uma das mais mortais da história da humanidade. A história brasileira já tem um presidente morto por um vírus desconhecido, mas Jair Bolsonaro parece não saber disto.