Arqueólogos encontram o túmulo de Rômulo, fundador de Roma
A descoberta é considerada “excepcional” pelos arqueólogos. O que poderia ser o túmulo de Rômulo (Romulus), o rei fundador de Roma, foi apresentado ao público pela primeira vez nesta sexta-feira (21), trazendo à tona uma parte da capital da Itália que remete às suas origens, há 3.000 anos.
O lugar era conhecido pelos especialistas e, em particular, pelo italiano Giacomo Boni (1859-1925) que, desde o século XIX, havia levantado a hipótese de que sob o Fórum Romano, ao redor do Comitium – espaço previsto para reuniões públicas na Antiguidade – poderia estar um monumento erguido em memória do fundador da cidade.
“Essa informação foi esquecida por um século, assim como a localização exata do túmulo. Foi uma grande descoberta para nós encontrá-lo como Boni o havia descrito”, disse a diretora do Parque Arqueológico do Coliseu, Alfonsina Russo.
Escavações recentes no parque do Coliseu confirmaram essa hipótese, ao trazer à luz “um sarcófago (já conhecido por Giacomo Boni) com cerca de 1,40 metro de comprimento, associado a um elemento circular, provavelmente um altar “, ambos os elementos datados do século VI a.C.
Os responsáveis pelo Parque Arqueológico esclarecem que é impossível “afirmar cientificamente” tratar-se de fato do túmulo de Rômulo.
“É apenas uma sugestão baseada em fontes antigas que evocam a presença da tumba de Rômulo nesta zona do Fórum”, explicou a responsável pelas escavações, Patrizia Fortini.
“É sem dúvida um monumento importante, a forma da caixa faz pensar em um memorial, mas o que realmente era, não se pode dizer”, acrescentou a arqueóloga.
Amamentados pela loba
Popularizada por autores antigos como Tito-Lívio (-59,17) e Ovídio (-43,17), a história dos dois gêmeos amamentados por uma loba – figura que se tornaria o símbolo de Roma – sempre dividiu historiadores.
Conta a lenda que Rômulo e Remo eram filhos do deus grego Ares, ou Marte, seu nome latino, e da mortal Reia Sílvia (ou Rhea Silvia), filha de Numitor, rei de Alba Longa.
Ao saber do nascimento das crianças, Amúlio, um rei tirano, as jogou no rio Tibre. A correnteza arremessou os bebês à margem, onde foram encontrados por uma loba, que teria amamentado e cuidado dos irmãos até que eles foram encontrados pelo pastor Fáustulo, que os criou como filhos.
Rômulo viria a se tornar o fundador da cidade de Roma e o seu primeiro rei.
Mito e realidade
A data de fundação de Roma é indicada, por tradição, em 21 de abril de 753 a.C por Rômulo, que teria matado seu irmão, Remo, por ele ter desrespeitado a demarcação do que viria a ser a nova cidade.
Um episódio dessa lenda foi revelado pela arqueologia no final dos anos 1980 por uma equipe de cientistas, liderada pela italiana Andrea. A arqueóloga descobriu um corte longo e profundo em uma área pouco explorada do Fórum. Para Carandini, tratava-se do “pomoerium”, o “sulco sagrado” desenhado por Rômulo.
A morte dele também oscila entre mito e realidade. A versão mais corrente é que Rômulo foi assassinado por senadores que, depois de desmembrarem seu corpo, dispuseram os pedaços em diferentes cantos da cidade. Essa teoria defende a ausência de um cadáver e, portanto, de uma sepultura.
Segundo outra tradição, defendida pelo autor antigo Varron (no século I a.C.), a tumba de Rômulo estaria localizada no Comitium, onde o primeiro dos sete reis de Roma teria sido morto.
“O fato de Rômulo existir ou não é irrelevante. O que importa é que essa figura tenha sido considerada pelos autores da antiguidade como o ponto de partida para marcar o nascimento político da cidade de Roma”, analisa o arqueólogo Paolo Carafa, especialista em antiguidade romana na Universidade La Sapienza, em Roma.
“Os arqueólogos do Parque do Coliseu se propõem a reconhecer esses dois objetos – o sarcófago e o cilindro de pedra – como o túmulo de Rômulo. Porém, eu aconselharia que, a partir dessa descoberta, possa ser aberto um debate científico”, conclui Carafa.
*Por RFI