Lino Villachá é a 11ª escola reformada pelo “Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade”
O projeto Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade iniciou neste mês de novembro a sua 11ª reforma de escola pública. Executada e custeada por presos de Campo Grande, a iniciativa inovadora, que hoje conta com reconhecimento nacional, escolheu para esta edição a Escola Estadual Lino Villachá, no bairro Nova Lima, que completará 35 anos de existência.
A instituição também ganhou destaque este ano no cenário nacional, por meio de um grupo de alunos do ensino médio que venceram o “Festival Nacional Cineastas 360º”, ao produzir um documentário justamente retratando o projeto do Poder Judiciário de MS, demonstrando verdadeiro empenho e interesse na reforma.
“Seria até difícil escolher outra escola”, comenta o juiz idealizador, Albino Coimbra Neto, da 2ª Vara de Execução Penal (VEP). Esse empenho dos estudantes, completa o magistrado, “é de extrema relevância na decisão de acolhimento do projeto, uma vez que, após a entrega da reforma, caberá a eles conservar as novas estruturas, envolvendo toda a comunidade”.
O valor total para a execução dessa 11ª reforma é de R$ 398.500,00, dinheiro este arrecadado com o desconto de 10% dos salários dos presos que trabalham via convênio em Campo Grande, cujo valor é depositado em subconta judicial. O único gasto público é o pagamento de um salário-mínimo por mês para cada preso, sob responsabilidade da Secretaria de Educação, que também disponibiliza o transporte deles.
Com as 10 reformas já executadas, o projeto gerou uma economia aos cofres públicos que ultrapassa os R$ 7 milhões, beneficiando 8.834 alunos, o que representa mais de 10% do total de escolas públicas estaduais da Capital. Além disso, as edições anteriores demonstraram o êxito do projeto ao permitir ao condenado vivenciar concretamente sua ressocialização.
O grande anseio que a reforma da Escola Lino Villachá gerou na comunidade é a mudança no sistema de captação e escoamento da água pluvial. Aluno do 5º ano, Saulo Henrique Denis de Santana relata que a escola inunda nos dias de chuva. “Não são apenas as goteiras em sala de aula que nos atrapalham, mas ficamos sem espaço para o recreio, pois o pátio interno alaga totalmente, espero que isso mude para que possamos estar na área coberta mesmo nos dias em que estiver chovendo”.
Hoje, isto não é possível, “porque a água sobe até um palmo do chão”, explica o diretor Olívio Mangolim. “Os dias de chuva são sempre apreensivos para nós, porque não há vazão da água. Umas quatro ou cinco salas também inundavam, então há a necessidade de readequar os alunos na biblioteca, nos laboratórios para que eles não percam os dias letivos e, mesmo assim, em alguns dias de chuva muito forte, em meio a uma fiação antiga, é preciso dispensar os alunos mais cedo”.
O diretor destaca que a chegada do projeto “Pintando e Revitalizando a Educação com Liberdade” está sendo bastante comemorado por eles, “pois vamos começar o ano de 2020 com uma escola totalmente nova e, somando outras parcerias, teremos espaço digno”.
Para o agente penitenciário Sandro Roberto dos Santos, que coordena o canteiro de obras, um dos grandes objetivos da equipe é repaginar a fachada da instituição. “Queremos deixar ela com cara de escola, pois hoje, com a entrada principal por um portão de um metro de largura, cercado de muros, e grades, ao lado de uma delegacia, parece uma cadeia. Vamos quebrar o muro, colocar grade e investir em paisagismo, que também será um dos destaques desta reforma”.
E tudo isto para receber os cerca de 1.200 alunos, em três turnos, do 4º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio e profissionalizante. Além disso, no próximo ano a escola vai ser pólo para alunos com deficiência auditiva, dando a devida atenção para receber com estrutura adequada todos os estudantes.
As aulas ainda não terminaram e os presos dividem espaço com os alunos. “Se estas pessoas estiveram presas, nós nem percebemos isso”, finaliza o diretor, “porque é uma convivência muito sadia e desde o primeiro momento conversamos com os alunos, que, em sua maioria, tem alguém na família cumprindo medida no sistema prisional. Então nossos estudantes já tem esta consciência de que punir não resolve o problema, que temos que encontrar outras formas de reeducar, de mostrar os valores e aprender que você pode ser importante na sua sociedade executando algum trabalho”.
Saiba mais – A reforma teve início no dia 4 de novembro e tem previsão de término até 15 de março de 2020. A obra abrange os 2.455 m² construídos, além dos 7.266 m² de muro, com área total de 9.721,29m². Para a execução dos trabalhos, uma equipe de 25 internos cumpre jornada de 44 horas semanais.
A exemplo das demais reformas, a obra contemplará a reestruturação completa da instituição, desde a parte hidráulica, elétrica, calçamento, revestimento, colocação de pias, forro de PVC, serviços de serralheria, pintura e paisagismo.
O projeto é realizado em razão da parceria do Tribunal de Justiça, por meio da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, com a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen-MS), Conselho da Comunidade e a Secretaria de Educação do Estado de MS (SED-MS).
A Agepen e o Centro Penal Agroindustrial da Gameleira disponibilizam a mão de obra necessária para a reforma, além de serem responsáveis pela administração financeira e execução do projeto.
A 2ª Vara de Execução Penal e o Conselho da Comunidade disponibilizam os recursos para a aquisição dos materiais e demais custos para a realização do projeto. A Secretaria de Educação disponibiliza o transporte e o pagamento dos presos.