No centro da Capital, indígenas protestam contra conflito no campo e o marco temporal
Um grupo de indígenas promoveu uma manifestação na manhã deste sábado (21), em Campo Grande, contra o conflito registrado no último dia 18 em uma fazenda de Antonio João envolvendo a tropa do Batalhão de Choque da Polícia Militar (Choque). Na ocasião, um indígena de 23 anos acabou morto.
O protesto foi liderado pela sobrinha de Marçal de Souza, Suzie Guarani, na Praça Ary Coelho. Os indígenas estavam munidos de cartazes, faixas e bandeiras e também aproveitaram para arrecadar doações de alimentos para as famílias indígenas que vivem em situação de risco e vulnerabilidade.
As principais reivindicações foram o marco temporal, a falta de segurança dos indígenas, contra a Polícia Militar e também críticas ao movimento agrário do Estado. À imprensa, a sobrinha de Marçal de Souza disse que veio de Dourados para Campo Grande exclusivamente para participar do protesto pacífico.
“A manifestação é um ato de repúdio às violências que os indígenas têm sofrido no Estado”, comentou a liderança aos jornalistas. No ato, citou a memória do seu tio e cobrou pela resposta do crime. “Até hoje não teve Justiça”, ponderou. Marçal foi assassinado em 25 de novembro de 1983 na aldeia Campestre.
Jovem morto respondia por latrocínio
O Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPMChoque) se manifestou na quinta-feira (19) sobre o confronto ocorrido na quarta (18) em uma propriedade rural na cidade de Antônio João e que resultou na morte de um indígena, identificado apenas pelo primeiro nome de Néri. A situação gerou debate entre os deputados estaduais e motivou até mesmo uma reunião de emergência entre o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo a comunicação do Choque, o indígena morto no confronto é um velho conhecido das autoridades policiais locais, inclusive, acumula diversas passagens por crimes variados e até mesmo responde pela participação em um latrocínio (roubo seguido de morte) praticado no ano de 2015, também em Antônio João. Nesta ocorrência, a vítima foi morta com um tiro na cabeça.
O Batalhão ainda declarou que o conflito aconteceu em decorrência do disparo de armas de fogo por parte dos indígenas. “Durante a dispersão do grupo, o referido indígena, que se encontrava em uma área de mata e armado, efetuou disparos contra as forças de segurança, atingindo o escudo protetor da tropa. Diante dessa ação, tornou-se necessário repelir a agressão, considerada injusta, por parte do indígena”, justifica.
O caso
O confronto envolvendo equipes da Polícia Militar e indígenas guaranis-kaiwás ocorreu em uma fazenda em disputa judicial, no Território Nhanderu Marangatu, em Antônio João, na manhã da quarta-feira (18).
O clima está tenso na região há pelo menos uma semana, quando houve o primeiro confronto e também o incêndio da ponte que dá acesso à fazenda que estava para ser ocupada pelos indígenas.
Na segunda-feira (16), os indígenas teriam ocupado parte da propriedade. Houve um diálogo entre policiais e as lideranças, que chegaram a firmar um acordo para que a área ocupada não fosse ampliada.
Entretanto, os indígenas teriam avançado mesmo assim, sendo necessário acionar a Tropa de Choque da PM para garantir a segurança. Na quarta, houve o novo confronto entre indígenas e policiais, que acabou resultando na morte de um dos indígenas.
Nas redes sociais, a Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá) diz que houve um massacre na área retomada pelos guaranis-kaiwás. Vídeos foram divulgados mostrando correria, gritos e fumaça.
Ao todo, o Território Nhanderu Marangatu tem 9,3 mil hectares e foi homologada em 2005, mas a demarcação foi suspensa por mandado de segurança impetrado no STF (Supremo Tribunal Federa).
Além disso, existe uma ação em andamento no TRF3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região pedindo a aplicação da tese do marco temporal e uma liminar da Justiça Federal em Ponta Porã que determina a permanência na Polícia Militar na área.