Após 8 horas, termina o 1º dia de julgamento da morte de ‘Playboy da Mansão’
Acabou o primeiro dia do segundo julgamento da Operação Omertà, que trata especificamente do assassinato de Marcel Colombo, conhecido como “Playboy da Mansão”. O crime aconteceu no início da madrugada do dia 18 de outubro de 2018, em um bar de Campo Grande, e no meio de diversas pessoas.
A última testemunha ouvida foi Marcelo Oliveira, a única arrolada pela defesa de Jamilzinho, apontado como um dos líderes da organização criminosa ao lado do pai, Jamil Name, falecido em 2021. O depoimento foi curto, com cerca de oito minutos de duração.
Questionado, ele disse que presenciou a briga entre Jamilzinho e Playboy da Mansão na casa noturna de Campo Grande. Esse é o motivo para o crime, segundo a investigação do caso.
A testemunha disse que Marcel teria “enfiado a mão no balde de bebida” de Jamilzinho, que não gostou a atitude e o reprendeu. Marcelo revelou ainda ser “conhecido” de Jamilzinho e também sabia quem era Marcel Colombo.
O primeiro dia
Neste primeiro dia de julgamento, foram oito horas de duração com depoimentos prestados pelos delegados Tiago Macedo e João Paulo Natali Sartori e o investigador de polícia Giancarlos de Araújo e Silva, todos em prol da acusação, além de Marcelo Oliveira, o último a ser ouvido e único que falou pela defesa do réu Jamilson Name Filho.
Logo no início, a defesa do ex-policial federal Everaldo Monteiro pediu pelo desmembramento do júri e que fosse julgado em outra oportunidade. Em sua justificativa para o pedido, a defesa disse que a perícia não foi feita em áudios juntados no inquérito. “Relativo à perícia, insisto que não foi realizada. Existe a necessidade da perícia desse material integralidade, e ainda necessário talvez desmembramento do júri.”, disse a defesa.
Ele também alegou que seria necessário o cliente ser julgado em outro momento, “No sentido de que quando deferiu o alargamento do prazo, o inquérito era de 6 mil páginas e hoje tem mais de 10 mil páginas. O réu tem direito à defesa efetiva e plena e o tempo é essencial.”. O juiz Aluízio Pereira dos Santos negou os pedidos.
O volume do processo também foi citado pelo promotor Douglas Oldegardo. Em entrevista à imprensa, ele classificou como ‘absurdo’. “Não há dúvida nenhuma, o volume de provas técnicas é verdadeiramente absurdo, felizmente nós vamos ter um bom número de dias para exibir isso para o Conselho de Sentença através da inquirição de testemunhas e nós teremos, inclusive, o tempo dilatado”, disse.
O promotor citou que “muito da prova vai ser produzida antes dos debates, através dos depoimentos, de forma que por ocasião do processo dialético que vai se desenvolver entre acusação e defesa nós poderemos discutir esta prova, que já vai ter sido produzida, fornecendo ao Conselho de Sentença já uma percepção mais apurada a respeito daquilo que o processo contém, proporcionando à sociedade uma decisão mais sólida e mais consciente”.
Delegado chorou ao lembrar do plano para matar investigadores do caso
O delegado de polícia Tiago Macedo chorou ao lembrar de ameaças contra os integrantes da força-tarefa responsáveis pela investigação do caso. Houve um episódio no qual foram encontrados em um pedaço de papel apreendido nas celas ocupadas por Jamil Name e Jamil Name FIlho no Presídio Federal de Mossoró (RN), em 2020, mensagens escritas em tom de ameaça e um plano de atentar contra a vida de um delegado de Polícia Civil, de um defensor público e um promotor de justiça.
“A gente segurou por muito tempo, mas as lágrimas vem. Isso mexeu muito com nossa família. Meu filho tinha apenas um ano e tivemos que mudar toda a rotina”, comentou o delegado, emocionado, durante o seu depoimento, que durou cerca de três horas, começando ás 10 horas e encerrando às 13 horas.
Primeira pessoa a prestar depoimento no julgamento, o delegado Tiago Macedo explicou ao Ministério Público que o motivo do crime foi uma briga entre Jamilzinho e Marcel (PLayboy da Mansão) em 2016, ocorrida numa boate de Campo Grande. Segundo o investigador, Marcel foi ao escritório da família Name e tentou se desculpar, mas não houve acordo.
Com medo da ameaça, a vítima chegou a mudar de Campo Grande para Cuiabá (MT), e para o delegado, não fez isso em vão. A investigação revelou que ele tinha esse padrão de comportamento com as vítimas, inclusive, aconteceu o mesmo com Paulo Xavier, orientado a sair da cidade sob ameaças de morte por Jamil Name e Jamil Name Filho.
Segundo o delegado, Marino Rios recebeu R$ 50 mil em dinheiro para matar Marcel dentro do sistema prisional. A história foi contada pela ex-mulher de Rios durante as investigações. Ela alegou ainda que como isso não ocorreu, o então marido foi cobrado de cometer o homicídio assim que o alvo estivesse livre.
O delegado narrou ainda que Marcelo Rios falou com os pistoleiros no dia do crime e fez pesquisas por matérias sobre o crime; isso foi comprovado por perícia no aparelho de Rios. A quebra do sigilo telemático revelou também que o Juanil, apontado como pistoleiro do crime e desaparecido, fez pesquisas pelo nome de Marcel e visitou as redes sociais dele.
Ele buscou o endereço do bar em que Marcel foi morto horas antes do assassinato e até como apagar uma conta no Instagram depois que cometeu o crime. O assassino fez 68 buscas por matérias sobre a morte do “Playboy da Mansão”, antes mesmo de que a notícia da morte fosse divulgada.
O delegado interligou os acusados: segundo ele, Marcelo Rios era o braço direito de Jamilzinho e Everaldo fez pesquisas pelo nome de Marcel em 2016, ano em que houve a briga entre Marcel e Name.
Marcelo Rios pensou em fazer ‘delação premiada’ para denunciar organização
Atual investigador da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), Jean Carlos de Araújo disse ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), que Marcelo Rios confessou, enquanto ainda estava preso na sede da Garras, que Jamilzinho, chamado por ele de “Guri”, era “obcecado por matar” o Playboy da Mansão desde que os dois brigaram em uma casa noturna, em 2016. Marcelo Rios disse ter recebido R$ 50 mil para cometer o crime, segundo a sua confissão ao investigador.
Rios chegou a dizer que iria fazer delação para revelar tudo o que sabia sobre a organização criminosa comandada pela Família Name. Tudo mudou até ele receber visita do advogado Alexandre Franzolozo, advogado da organização. Jean disse que foi ameaçado de morte por Jamil Name (pai), apontado como líder. “Esse é um vagabundo, mentiroso, merece morrer”, teria dito Name, durante audiência.
Durante os questionamentos dos advogados de defesa dos réus, a maioria das perguntas foi relacionada ao comportamento “explosivo” de Playboy. A vítima tinha fama de ser “brigador”, uma pessoa que se envolvia em diversas confusões. A defesa de Rafael Antunes questionou o investigador Jean Araújo sobre duas afirmações feitas pelo investigador em plenário, que não constam no relatório feito por ele na época da prisão de Rios.
Jean não teria detalhado no relatório com cerca de 50 páginas, que a ex-esposa de Rios disse ter pesquisado, a mando do marido o nome de Playboy na internet. Jean também não teria citado que Jamilzinho cobrou insistentemente que Marcel fosse assassinado após entregar R$ 50 mil a Marcelo Rios para ele contratar um executor do crime.
Jean reafirmou que ouviu tais alegações da ex-esposa de Rios informalmente, mesmo elas não estando no relatório.
O caso
Jamil, Marcelo e Everaldo respondem por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e também por tentativa de homicídio contra Thiago do Nascimento Bento, amigo de Marcel, baleado no dia do crime. O ex-guarda civil metropolitano, Rafael, responde por porte ilegal de arma de fogo.
Marcel Hernandez Colombo, de 31 anos, foi executado com tiros de pistola enquanto conversava e bebia com amigos em um bar na Avenida Fernando Corrêa da Costa, no dia 18 de outubro de 2018. O crime foi gravado por câmeras de segurança, que mostraram os assassinos chegando de moto e executando a vítima pelas costas.
O motivo da execução seria um desentendimento entre Marcel e Jamil Name Filho ocorrido dois anos antes em uma boate da capital, após o qual Jamil teria prometido vingança.
Jamilzinho e os outros acusados já respondem na Justiça pela execução de Matheus Coutinho Xavier, de 19 anos, em abril de 2019, um crime que resultou na morte do estudante por engano. Ano passado, Jamil Name Filho foi condenado a 23 anos e seis meses de prisão por ser mandante do assassinato de Matheus, e Marcelo Rios também foi sentenciado à mesma pena por envolvimento no caso.
A morte de Colombo foi investigada pela Operação Omertà, que revelou a autoria do crime após desvendar os responsáveis pela execução de Matheus. As investigações apontaram que ambos os crimes foram ordenados pelas mesmas pessoas e executados pelos mesmos pistoleiros, com os mandantes sendo Jamil Name Filho e seu pai, Jamil Name, que faleceu durante a pandemia de COVID-19.
Marcelo Rios teria a tarefa de contratar pistoleiros, e Everaldo foi responsável por monitorar a rotina da vítima.
Marcel Colombo já havia sido alvo de uma operação da Polícia Federal (Operação Harpócrates) em dezembro de 2017, que investigou a importação ilegal de produtos do Paraguai, resultando na apreensão de cerca de duzentos mil reais em produtos ilegais.
Ele chegou a ficar alguns meses na cadeia sendo solto. Juanil Miranda Lima, acusado de ser o atirador, está foragido.