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Conheça a história de Helena Meirelles, a Dama da Viola e o símbolo da música e da cultura sul-mato-grossense

Certamente você não verá nenhuma reportagem na grande mídia nacional falando sobre a figura de Helena Meirelles, mesmo o seu centenário de vida – celebrado exatamente nessa terça-feira (13) – sendo mencionado por publicações em diversos sites, inclusive do Senado Federal (veja aqui). A ‘Dama da Viola’, conforme ficou conhecida, é também um dos maiores símbolos da cultura e da música sul-mato-grossense.

Entre os feitos alcançados pela artista, sem dúvida, está ter sido o único nome brasileiro entre os cem melhores guitarristas de todos os tempos em um ranking produzido pela conceituada revista norte-americana Guitar Player. Entre as canções mais conhecidas de Helena, está o clássico ‘Primeiro de Maio’, lançada há pouco mais de 20 anos (2003), dois anos antes de sua morte.

O olhar baixo semelhante ao de uma onça, o semblante fechado e sério, o chapéu típico de um peão de boiadeiro e o jeito de quem nasceu no interior e não teme qualquer situação. Só quem conviveu com Helena Meirelles pode descrever essa violeira, que nasceu em 13 de agosto de 1924 na fazenda Jararaca, às margens do Rio Pardo e da estrada boiadeira, que liga Campo Grande ao Porto XV, em Bataguassu.

Criada na roça, com comitivas e violeiros, logo despertou o desejo de aprender a tocar o violão, porém, naquela época, onde a cultura machista operava tudo e impedia as mulheres de fazerem qualquer coisa que não fosse cozinhar e lavar-roupas, ela foi impedida. Apesar da proibição, às escondidas, foi dedilhando as cordas até que seu tio Leôncio Meirelles descobriu o enorme talento que a garotinha tinha e lhe ensinou.

Conheça a história de Helena Meirelles, a Dama da Viola e o símbolo da música e da cultura sul-mato-grossense
Helena Meirelles (Foto: Arquivo Pessoal)

Com isso, não demorou para a Helena passar a se apresentar nas festas da região, bares e aos boiadeiros. Casou-se pela primeira vez ainda aos 17 anos e teve três filhos, mas deixou a marido aos 21 anos por conta dos ciúmes dele. Na sequência de sua jornada, juntou-se com um paraguaio que tocava violão e violino em uma relação que durou oito anos e lhe deu mais dois filhos.

Sem nunca ter frequentado a escola, não tinha conhecimentos avançados e decidiu viver no bordel. Foi lavadeira, parteira e benzedeira. Todos os cinco filhos que teve foram entregues para a adoção, e ainda chegou a ter mais seis filhos e um terceiro casamento, também o mais duradouro, de 35 anos.

A música dela era de ritmos sul-mato-grossenses, com influências paraguaias, entre eles, chamamé, rasqueado e polca. Na década de 1980, foi apresentada por Inezita Barroso no programa “Mutirão”, na rádio USP de São Paulo, e também no programa “Viola, minha viola”, na TV Cultura. Na passagem dos anos 1980/90, gravou uma fita que não recebeu grande atenção em diversas rádios.

Em 1992, se apresentou ao lado de Inezita Barroso e da dupla Pena Branca e Xavantinho no Teatro do Sesc, em São Paulo. Ao mesmo tempo, o sobrinho Mário Araújo enviou carta, fotografias e gravações em fita cassete para a revista Guitar Player, até que em 1993 foi escolhida como Instrumentista Revelação do Ano, vencendo o Prêmio Spotlight. A partir daí ganhou notoriedade.

Em 1994, ano em que completou 70 anos, a gravadora Eldorado lançou seu primeiro CD, “Helena Meirelles”, que tem as composições de sua autoria, como “Fiquei sozinha” e “Quatro horas da madrugada”, o clássico “Chalana”, de Mário Zan e Arlindo Pinto, e “Araponga”, de domínio público. Também conta “causos” vistos e vividos na Fazenda Jararaca.

No mesmo ano, novamente a revista Guitar Player mudou a sua vida, elegendo-a entre as 100 melhores palhetes do mundo de todos os tempos, ao lado de nomes como B. B. King, Eric Clapton, Keith Richards e Jimi Hendrix. Em 1996, foi lançado seu segundo disco, “Flor de Guavira”, no qual interpretou, entre outras, “Saudades do meu velho pai” e “Chuíta”, de sua autoria.

No ano seguinte, foi lançado “Raiz pantaneira”, no qual toca junto com Sérgio Reis a composição “Guiomar”, de Haroldo Lobo e Wilson Batista. Em seus shows, tocava violão e viola, acompanhada do filho Francisco e do primo Aílton. Com a fama e o prestígio ficou hospedada no Hotel Othon, em São Paulo, em temporada, por conta da gravadora Eldorado. Seus discos já venderam mais de 80 mil cópias.

Em 2002, gravou o disco ao vivo “Helena Meirelles volta à estrada pantaneira”, em Campo Grande, pela gravadora Sapucay, no qual interpretou canções inéditas e canções de seus discos anteriores. Uma curiosidade nas composições, a Dama da Viola não se preocupava em dar nome às músicas que fazia, o que era feito pelo filho, o violonista Francisco da Costa Machado, que a acompanhava nos shows.

Em 2003, lançou o quarto disco “Ao vivo – De volta ao Pantanal”, com oito músicas inéditas, com destaque para “Flor pantaneira” e “Samba do Zé”. Em 2004, foi protagonista do filme “Helena Meirelles, a dama da viola”, um documentário (veja aqui) do cineasta Francisco de Paula, que contou com narração do ator Rubens de Falco e traçou a trajetória da instrumentista, percorrendo vários episódios de sua vida.

Helena Meirelles morreu aos 81 anos, em decorrência de pneumonia crônica, no dia 28 de setembro de 2005, em Campo Grande. O falecimento repercutiu como perda de um patrimônio cultural, levando a seu sepultamento inúmeras personalidades ligadas à viola e violeiros, que tocaram juntos, num concerto improvisado. Em 2013, venceu o Prêmio Rozini de Excelência da Viola Caipira, do Instituto Brasileiro de Viola Caipira.