Jamil e Jamilzinho Name são transferidos para o Presídio Federal
Os empresários Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho, suspeitos de chefiarem a organização criminosa do jogo do bicho que criou uma milícia para matar desafetos em Mato Grosso do Sul, foram transferidos na tarde deste sábado (12), do Centro de Triagem, no Complexo Penitenciário estadual para o Presídio Federal de Campo Grande.
Também foram transferidos para o local outros dois suspeitos de fazerem parte da cúpula da organização, ocupando o cargo de gerentes, o policial aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, o Vlad, e o investigador da Polícia Civil lotado da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (DERF), Márcio Cavalcanti da Silva.
Rodrigo Pereira da Silva Corrêa, chefe do cartório da 1ª Vara de Execução Penal, aponta que foi solicitado uma escolta reforçada para fazer a transferência dos líderes da milícia do Centro de Triagem para o presídio federal.
Os quatro foram presos no dia 28 de setembro, durante a operação Omertá, realizada por uma força-tarefa do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS) e unidades das polícias Civil e Militar do estado para desarticular a suposta organização criminosa.
Os quatro vão ficar no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) por seis meses. Nesse regime ficarão em celas individuais, com limitações ao direito de visita e do direito de saída da cela.
A transferência atende um pedido da Polícia Civil do estado, com base em relatório da Diretoria de Inteligência do órgão, que foi endossado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-MS, que aponta a impossibilidade do sistema estadual de custodiar essas lideranças da organização e impedir que eles planejem atentados contra pessoas que trabalham nas investigações.
Na decisão do juiz da 5ª Vara de Execuções Penais Federais, Dalton Igor Kita Conrado, que autoriza a transferência, é deixado claro que a medida tem caráter emergencial e temporário, já que o objetivo é removê-los para a penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-MS, a organização criminosa é responsável por encomendar pelo menos três execuções em Campo Grande.
A milícia, de acordo com a investigação, é suspeita de ter executado pelo menos três pessoas em Campo Grande desde junho do ano passado. Outras mortes também estão sendo investigadas.
Na representação, os promotores do Gaeco detalham que os três homicídios têm as mesmas características: foram cometidos por várias pessoas, usando mais de um veículo e com armas de grosso calibre, no caso, fuzis.
Com base nas investigações e em depoimentos, o Gaeco aponta que uma das execuções que teria sido cometida pela milícia seria a de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ele foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. Seu carro foi perseguido e ele foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro carro.
Conforme o Gaeco, Figueiredo foi morto porque teria tido participação no homicídio do filho de uma pessoa muito próxima aos dois homens que são apontados como os líderes da milícia, Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho.
Em uma conta na nuvem da internet, de um dos suspeitos presos na operação, a polícia encontrou, inclusive, 26 fotografias da execução de Figueiredo.
Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação do Gaeco à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ele foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.
Fernandes, que teria ligação com Figueiredo, foi morto no Jardim Autonomista, bairro nobre de Campo Grande, quando estava caminhando em direção ao seu carro. Os tiros atingiram principalmente a sua cabeça. Na carteira da vítima foi encontrado um cheque no valor de R$ 240 mil e ainda R$ 1,2 mil em dinheiro.
A terceira morte que teria sido cometida pela milícia, segundo o Gaeco, foi a do estudante Matheus Xavier, de 19 anos. Ele foi morto no dia 9 de abril deste ano, no bairro Jardim Bela Vista, quando manobrava a caminhonete do pai, o capitão aposentado da PM, Paulo Roberto Xavier.
A investigação aponta que Jamil Name, acreditava que Paulo Roberto Xavier tinha se aliado a um advogado, com quem ele tinha tido um desacordo em negociação de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon localizadas em Jardim e em Campo Grande.
Por conta do revés nos negócios, Jamil Name, conforme o relatório da polícia, teria dado ordem para matar o advogado, a esposa dele e seu filho, além do ex-policial militar.
A dupla foi denunciada pelo MP-MS por posse e porte ilegal de armas. Para os investigadores eles seriam os donos do arsenal encontrado na casa dos Name no Jardim Monte Líbano. No dia da apreensão o ex-guarda municipal Marcelo Rios foi preso no local. Ele e outros suspeitos vinham sendo monitorados pelo Gaeco.
Quando a operação foi deflagrada, 23 mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Marcelo Ivo. Quatro pessoas, além de Marcelo Rios já estavam presas.
Um segurança e dois ex-guardas municipais teriam ameaçado de morte a esposa de Marcelo Rios para que ela não fosse à polícia.
A mulher chegou a procurar o Gaeco em nome do marido para fazer uma colaboração premiada e alcançar o benefício do programa de proteção à testemunhas.
Segundo a investigação, o advogado de Marcelo Rios, Alexandre Franzoloso impediu o cliente de seguir com o procedimento para proteger Jamil Name e Jamil Name Filho. Ele chegou a ter a prisão decretada, mas conseguiu um habeas corpus. No entanto, é uma das 12 pessoas que foram denunciadas pelo Gaeco por obstrução de Justiça.
A garantia da liberdade de Franzoloso foi a única decretada até agora pela Justiça. Continuam presos 22 suspeitos. Jamil Name, que no dia da prisão, chegou a se despedir da esposa com um “até amanhã” teve o habeas corpus negado no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
Na próxima semana, novos pedidos de liberdade deverão ser analisados. A investigação continua. Três denúncias passarão por análises de juízes de diferentes varas criminais. Na segunda vara, está a que pede a condenação de Jamil Name e de dois funcionários do haras do empresários por armas encontradas durante a busca e apreensão. Na primeira, a que liga o arsenal ao empresário, ao filho e a outros quatro investigados. A denúncia de obstrução de Justiça, se aceita, será um processo de 12 réus na terceira vara criminal.
O advogado de defesa da família Name, Renê Siufi disse que entrou com um habeas corpus no STJ. Sobre a denúncia de obstrução de Justiça ele informou que só vai se pronunciar na segunda-feira (14), após terminar de analisar o documento.
Já o advogado Alexandre Franzoloso, que foi denunciado pelo Gaeco e defende Marcelo Rios, disse que a informação de que atrapalhou à Justiça impedindo Marcelo Rios de fazer delação premiada não procede. Segundo ele, Rios nunca o informou de que gostaria de fazer essa delação.
“Os fatos são os mesmos, imputam a mim o fato de orientar o meu cliente a não fazer delação premiada. Isso não procede, aliás ele nunca me disse que gostaria de fazer delação premiada.
Nunca me disse que estava insatisfeito com a defesa dele, que aliás não é realizada só por mim e sim pelo meu escritório, somos em três advogados. Repito que não cometi nenhum ato que pudesse ser interpretado com desvio de conduta ética ou ultrapassado qualquer limite legal”, ressaltou Franzoloso.
*Por G1 MS