Estevão Petrallás diz que foi intimado pela CBF para assumir a presidência interina da FFMS
Afirmando não ser a “continuação de [Francisco] Cezário” no comando da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), o presidente interino Estevão Petrallás concedeu uma coletiva à imprensa nessa terça-feira (28) para anunciar a retomada das atividades da entidade esportiva.
Na sua fala, disse que o primeiro ato como presidente interino foi reestabelecer o sistema para registro de atletas, que estava indisponível há alguns dias e provocou até mesmo o adiamento do Campeonato Estadual de Futebol Sub-20, competição que dá ao campeão uma vaga na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2025.
“Eu preciso de uma chance de credibilidade, que vocês nos deem pelo menos uns três, quatro dias, eu não preciso mais do que isso. Ninguém veio aqui para remoer o passado, a gente precisa organizar e caminhar para a frente, quero fazer uma gestão compartilhadíssima com os dirigentes porque eu sei o que eles passam”, declarou.
Ele explicou que deixou o cargo de presidente do Conselho Deliberativo do Operário Futebol Clube e foi até a sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro (RJ), para atender a convite do presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues. No encontro, ficou decidido que ele seria nomeado o interino no lugar de Cezário.
“Fui intimado, convocado, por ser um dos vice-presidentes eleitos. Houve uma análise da CBF e entenderam pelo meu nome”, explicou. “Eu estou interinamente colocado num lugar para fazer o futebol continuar. Estevão não é a continuação de Cezário”, completou ao ser indagado sobre a sua ligação com o presidente preso na Operação Cartão Vermelho.
Estevão também disse que quer propor mudanças no Estatuto da FFMS para evitar que uma próxima pessoa fique no cargo por mais de duas décadas. Questionado sobre a não assinatura na ata de posse, em 2023, o interino mostrou que foi uma ausência justificada. “Estou legítimo para assumir as funções”, disse.
Ele também comentou que não suspeitava das irregularidades praticadas pelo Cezário e que foi pego de surpresa pela operação que culminou na prisão dele. Na oportunidade, também citou que, com a sua nomeação oficializada pela CBF, a Assembleia Geral da FFMS prevista para a próxima semana não deve mais acontecer.
Apesar das explicações de Petrallás, o TJD (Tribunal de Justiça Desportivo) deve questionar a CBF sobre a nomeação. O pedido de esclarecimento será enviado pelo Procurador-Geral do TJD, Adilson Viegas com objetivo de dar maior transparência ao processo. Em um documento, grande parte dos clubes filiados à FFMS se disse contra a nomeação.
“Jamais pensei que seria indesejado por um grupo que sempre ajudei. A mim, dá a impressão que o problema não é só dessas pessoas que estão detidas. Tem mais algumas pessoas que se beneficiaram muito desse esquema e isso vai aparecer. Eu não quero mexer com isso. Eu quero fazer o futebol andar, avançar”, concluiu.
O caso
Francisco Cezário é investigado por lavagem de dinheiro e desvio de recursos da FFMS. No curso das diligências, até agora, foram apreendidos mais de R$ 800 mil. A operação cumpriu sete mandados de prisão preventiva, além de 14 de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.
O Ministério Público disse que foram 20 meses de investigações, onde foi constatado a instalação de uma organização criminosa dentro da FFMS com objetivo de desviar valores provenientes do Governo do Estado (via convênio, subvenção ou termo de fomento) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em benefício próprio e de terceiros.
Dos sete presos, somente um não é parente de Francisco Cezário. A maior parte do dinheiro iria para o presidente. Numa ligação telefônica, Cezário chega a dizer a um interlocutor que precisa ganhar dinheiro com o futebol e que precisavam inventar um projeto para usar recursos de Prefeituras.
Foi descoberto ainda que a FFMS enganava os clubes com diárias de hotel, agendando duas diárias para times e usando somente uma. O valor da outra ficava com o grupo. Verbas provenientes da CBF para realização de jogos também eram desviadas, além de apresentarem prestação de contas “maquiadas” com valores fictícios.
O Gaeco investiga ainda um suposto pagamento de propina de uma empresa fornecedora de material esportivo para a Federação. Os promotores concluíram que a FFMS repassou dinheiro para a empresa, mas recebeu R$90 mil de volta, sem qualquer justificativa. Os depoimentos dos investigados aconteceram nessa terça-feira, mas Cezário não depôs.
Francisco Cezário está atualmente em seu sétimo mandato de presidente da FFMS, tendo sido reeleito até 2027. A última eleição foi em 2022 e o mandatário está no comando da Federação desde 1998, tendo se afastado de 2001 a 2004 para assumir o cargo de prefeito de Rio Negro.