Criança de dois anos tem morte cerebral confirmada 20 dias após sofrer agressão da mãe e padrasto
Foi confirmada na tarde dessa segunda-feira (12) pela Santa Casa a morte cerebral do menino de dois anos agredido pela mãe, de 19 anos, e o padrasto, de 24, em crime ocorrido no dia 23 de janeiro, em Campo Grande. A família já foi comunicada do encerramento do protocolo médico.
Ao todo, foram 20 dias de internação da vítima na Centro de Terapia Intensiva (CTI), com quadro clínico de traumatismo craniano, lesões no pulmão, acúmulo de líquido e hematoma no abdômen, além de escoriações nos membros inferiores. A equipe médica foi quem desconfiou de que se tratava de maus-tratos e acionou a Polícia Militar.
Ao longo do tempo em que esteve hospitalizada, a criança não apresentou melhoras e foi aberto o primeiro protocolo de morte cerebral, cujo resultado foi inconclusivo, já que ainda era possível identificar atividades cerebrais. Por conta disso, o procedimento foi repetido dias depois, dessa vez confirmando o óbito.
O caso
O caso veio a tona no dia 23, depois que a equipe médica da Santa Casa atendeu a vítima. Na ocasião, a mãe alegou que o menino tinha caído de um degrau na casa em que residem enquanto brincava com a irmã de quatro anos.
Entretanto, a pediatra responsável pelo atendimento acusou que as lesões não eram compatíveis com a dinâmica relatada pela mãe e a polícia foi acionada para investigar o caso de maus-tratos.
Segundo as informações, a jovem não teria ido mais visitar o filho desde o dia 24, quando o caso começou a ser investigado.
A mãe da vítima foi localizada no dia 29, em frente a sede do Conselho Tutelar do bairro Aero Rancho, sendo a própria pediu ajuda para se entregar às autoridades.
No dia 1º, ela e o padrasto da criança foram presos por tentativa de homicídio, mas com a morte encefálica confirmada, os dois deverão responder por homicídio.
A investigação
A investigação contou que o casal (que desde o ocorrido alega não estar mais junto) não tem uma residência fixa, morando na rua ou em lugares invadidos, inclusive, o imóvel no bairro Jardim Colibri, onde os fatos ocorreram, tinha sido ocupado de forma irregular. “Antes disso, os dois chegaram a morar em um veículo Kombi com as crianças”, detalhou a responsável pelo caso.
A delegada declarou que em nenhum momento os dois autores confessaram ter agredido a criança, apesar disso, ela não tem dúvida de que houve o ato de violência que resultou no quadro clínico atual da criança. “Durante os depoimentos, os dois foram mudando as suas versões até que não sobrou nenhuma compatível para o que a criança apresenta e, apesar de serem confrontados, não confessaram o crime”, pontuou.
Nelly Macedo citou que pediu a prisão temporária do casal por não saber qual deles teria praticado a agressão final. “O menino foi espancado pelos dois ou por um dos dois com a conivência do outro. Ainda há laudos periciais a serem concluídos, mas a mãe e padrasto serão indiciados. Concluímos pelo homicídio tentado e não há dúvida que os dois são responsáveis por essa violência”, afirmou ela.
Sobre o andamento da investigação, a responsável lembrou que ouviu três versões diferentes para o acidente da criança. A primeira foi no momento em que o casal acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para o socorro. “A mãe contou aos socorristas que o filho tinha caído na rua em frente da casa. No hospital, relatou que havia caído de uma escadinha, de acesso da cozinha para a área externa da casa”.
A outra contradição descoberta pela investigação foi quanto a participação do padrasto da vítima. No primeiro momento, a mãe disse que estava sozinha com os filhos na casa quando ele caiu do degrau e bateu a cabeça, porém, foi descoberto através do rastreamento do celular do namorado dela que o mesmo estava no local no horário do eventual acidente doméstico.
Por último, o casal tentou justificar que o filho teria caído do colo em um momento no qual estavam pulando o muro da casa para a invasão. Porém, a polícia encontrou imagens de câmera de segurança que mostram o casal indo até o local onde pararam para acionar o socorro médico. “Toda a dinâmica do crime foi dentro da residência, saíram e foram até duas ruas acima para acionar o socorro”.
“Nossa maior dificuldade foi em estabelecer a dinâmica do que aconteceu com a criança, porque havia muitas inconsistências nas narrativas. Começamos a suspeitar dessas dinâmicas narradas e quando nos chegaram as informações dos graus das lesões que a criança sofreu eram lesões graves em órgãos vitais e nos fez suspeitar que não se tratava de um acidente, mas sim de algum ato violento contra essa criança”, explica.
A delegada citou que a jovem tenta inocentar o companheiro. “Ela tentou defender ele apresentando versões que o tiraram das cenas”, relatou. Além disso, os dois tentaram se esquivar da responsabilidade dos fatos. “Eles fugiram e só apareceram porque imagens foram divulgadas nas redes sociais”. A mãe da vítima se entregou quase uma semana depois enquanto o padrasto foi preso pela PRF fugindo, a pé, para Terenos.