Com terapia e apoio, mulheres dão fim a violência e iniciam ciclo de conquistas
Uma das psicólogas que atende no CEAM, Lilía Oneto, explica que a partir da pandemia – em 2020 – houve aumento perceptível e exponencial dos casos de violência contra a mulher. “Durante e pós-pandemia aumentou muito os casos, e observamos que as lesões físicas são mais profundas. E as agressões psicológica e moral também. Não são mais palavras soltas no meio de uma briga, o que também é errado, é intencional e realmente para machucar e diminuir a mulher”.
Casos de estupro, tentativa de feminicídio e de suicídio, são atendidos de forma prioritária no CEAM, sem qualquer tipo de espera. As pacientes atendidas no local são encaminhadas de diversas formas, e também descobrem o serviço por conta própria.
A terapia ajuda as mulheres a se reconhecer como vítima de violência e a sair do ciclo cruel estabelecido por homens abusadores. “Por isso atentemos mulheres de qualquer classe social, que tenha ou não boletim de ocorrência e medidas protetivas. Mas nossa orientação é que sempre seja feito o registro, pois é fundamental para as políticas públicas da área”, explicou a psicóloga Lilía.
Ana iniciou a terapia em maio de 2022 e esta semana fará a última sessão antes de receber alta. Ela percorreu um longo caminho até conseguir se livrar do relacionamento abusivo que durou 22 anos. E só percebeu que era vítima de violência, quando a filha registrou um boletim de ocorrência contra a mãe. “Eu fui até a Delegacia da Mulher como acusada e saí de lá como vítima. Fui encaminhada pela assistente social de lá para o CEAM, e foi o que salvou minha vida. Meus filhos estão com o pai, em outro estado. Eu fiquei e consegui me reerguer”.
Na semana passada, quando fez a penúltima sessão de terapia, Ana usava calça jeans, blusa roxa e salto alto, roupas aparentemente simples, mas que para ela a psicóloga não passou desapercebido, dando o tom da vitória alcançada. “Ela (psicóloga) fez uma colocação, de que quando comecei a terapia, eu só usava roupa preta. Eu não lembro mais disso. Eu tinha duas profissões quando era casada e decidi fazer mais uma faculdade na área da saúde. E no último ano, que foi em 2022, a gente se separou. Ele disse que eu não ia conseguir terminar, e eu terminei e hoje trabalho na área que escolhi”.
O casamento para o qual se dedicou durante mais de duas décadas acabou, os filhos foram embora com o pai e sem qualquer recurso, pois não tinha emprego, Ana só não ficou sem casa porque morava de favor na residência que pertence aos pais dela. “Eu saí sem absolutamente nada do casamento. Mas agora já tenho uma carreira nova na área da saúde e consegui um apartamento popular. Vivi minha vida toda pelos outros, e agora preciso focar em mim”.
Os dias de violência ficaram para trás, e por isso Maria aceitou falar sobre a importância do atendimento do CEAM. “Eu fiquei oito meses fazendo terapia, e valeu pela minha vida toda. Eu nunca tinha revelado os abusos que eu sofri, inclusive sexual por uma pessoa da família quando era criança, após ter sido abandonada pelos meus pais. Mas consegui falar sobre isso com a psicóloga. Fez muita diferença em todos os sentidos, pois eram coisas graves e a terapia me ajudou a resolver tudo”.
A terapia abriu caminhos para a independência emocional e financeira. “Eu não tinha voz ativa sobre mim mesma, agora aprendi a ter. Fui encaminhada pela Delegacia da Mulher, e a partir daí comecei a terapia e consegui resolver todos os meus problemas e administrar minha própria vida”.
Atendimento
“O CEAM é um local que presta acolhimento e acompanhamento psicossocial às mulheres vítimas de violência no geral. Tem que ser acima de 18 anos, não necessariamente precisam ter um boletim de ocorrência registrado, e não tem recorte de renda. O Governo do Estado presta um serviço de excelência, uma política pública efetiva, que deu certo. Inclusive com transporte para as mulheres virem pra cá e voltarem para casa. Queremos apenas que elas se tratem, se cuidem, para romper de vez o ciclo de violência que estão vivendo”, disse Sidneia Tobias, que atuou como delegada da Polícia Civil, durante três década e agora é a coordenadora do CEAM.
Por mês, são em média 560 atendimentos – sessões de terapia, inclusive com atendimento das mulheres que estão abrigadas na residência protegida. “É um local adequado, destinado às mulheres que precisaram sair imediatamente de suas casas com os filhos. Elas podem ficar até 180 dias, prorrogável por igual período, até se estabelecerem de forma definitiva em local seguro. Recebemos mulheres do Estado todo”, explicou Sidneia.
Além das psicólogas e encaminhamento social – inclusive para o mercado de trabalho – o CEAM também tem um bazar onde as mulheres assistidas recebem roupas, brinquedos para os filhos, e até itens domésticos. “É abastecido pela nossa equipe e por doações e ajuda de voluntárias, quando precisa a gente consegue até coisas para a casa”, disse a coordenadora.
O próximo passo do CEAM é proporcionar atendimento às crianças. “Muitas dessas mães que são abusadas e desses mais abusadores, vieram de lares onde eram vítimas primárias e secundárias. Eles viram os pais e mães sendo autores e vítimas de abusos, e os filhos estão passando agora, pela mesma situação. A gente precisa romper esse ciclo. É urgente! E por isso as crianças também precisam ter atendimento psicológico. Estamos trabalhando para que isso ocorra também”, finalizou Sidneia.
Serviço
Caso você seja vítima de violência doméstica ligue 190 (Polícia Militar) e denuncie. O telefone da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) – que fica na Casa da Mulher Brasileira, Rua Brasília, s/n – é (67) 2020-1300 / 1319.
Clique aqui (https://www.naosecale.ms.gov.br/delegacias-da-mulher/) para obter mais informações sobre atendimento à mulher vítima de violência em Mato Grosso do Sul.
No CEAM os telefones para informações e agendamentos são: 0800-067-1236 ou (67) 3361-7519.