Por danos ambientais, obra milionária é paralisada no Pantanal; empresa responsável é citada em esquema de corrupção
Obra para aterro de estrada foi paralisada por danos ambientais, no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Os trabalhos eram feitos pela empresa ALS dos Santos, que pertence a André Luis dos Santos, conhecido como “André Patrola”, denunciado pelo Ministério Público por fraude em licitações. O investigado também já foi multado em R$ 1,3 milhão por desmatamento ilegal no Pantanal.
Só com o governo do estado, a empresa de André Patrola tem R$ 130 milhões em obras e serviços, sendo R$ 27 milhões em execução. Além disso, também tem contratos milionários com a prefeitura de Campo Grande e, nesta semana, o nome dele apareceu na Operação Cascalhos de Areia, do Ministério Público Estadual. É a mais recente de uma série de denúncias envolvendo o megaempresário.
A estrada fica no Pantanal da Nhecolândia, um dos 11 ambientes diferentes que formam o bioma. São 45 quilômetros que ligam a Estrada Parque ao Rio Taquari. A obra começou em 2022.
Na região da estrada, em época de cheia, tudo fica alagado e intransitável e por isso, o governo do estado começou a fazer um aterro pra elevar o nível do trajeto. Contudo, a obra chamou atenção de especialistas pela barreira que se formou. Não existem pontes de vazante para a água escoar nos períodos de cheia durante todo o trajeto.
Paralisação
No Pantanal, a construção só foi paralisada pelo governo depois do alerta feito pelo Instituto Homem Pantaneiro (IHP) aos órgãos ambientais.
“O Pantanal da Nhecolândia ele é formado por baías e salinas. Essas baías e salinas, elas contêm água então tem que existir o pulso de inundação, tem que ocorrer as chuvas e essas águas elas tem que fluir pelo pantanal, então, criando essas estradas tem um represamento”, explicou o pesquisador do IHP, Wener Moreno.
No dia 23 de maio o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) comunicou a situação ao Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) afirmando que não há qualquer licença ambiental para obras desse tipo desde janeiro de 2020.
Enviou também imagens de satélite, antes e depois da construção do aterro, comprovando o caminho das águas. “O Pantanal, ele vive de ciclos, então, pensando só na seca, o Pantanal não se forma, então tem que pensar na seca e na cheia. A estrutura ela deve ser pensada nesses dois fatores”, completou Wener.
O que diz o governo
Em nota, o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento, Jaime Verruck, reconhece que o aterro formou uma barreira e afirma a necessidade da construção de passagens de água. Contudo, o instituto não apresentou documento comprovando estudo técnico ambiental na região.
O secretário Estadual de Infraestrutura e Logística, Hélio Peluffo Filho, responsável pela execução, falou sobre a paralisação dessa e de outras obras.
“Todas as obras do pantanal, nós temos mais de 13 contratos no pantanal, várias empresas… e o governo atual suspendeu esses contratos, paralisou essas obras pra analisar todos esses contratos. e aí envolve todas essas entidades, as Ongs, moradores do pantanal, produtores do pantanal, universidades, o instituto pantaneiro e o Imasul, que vem acompanhando isso bem próximo”, relatou.
De acordo com a secretaria, a previsão era finalizar em agosto deste ano, asma Hélio diz que ajustes serão feitos.
“Existe um grupo de trabalho aqui dentro da secretaria, a Seilog, em parceria com o Imasul, que tem o André na sua titularidade e nós vamos ouvir a todos. A entrega tem que sempre culminar com qualidade, com prazo e principalmente atender as questões ambientais”, ressaltou.
*Por G1 MS