Rogério Ceni chega ao Cruzeiro precisando vencer rápido no Brasileirão
O técnico Rogério Ceni, ex-Fortaleza, foi oficialmente apresentado pelo Cruzeiro. Na entrevista coletiva na Toca da Raposa, na tarde desta terça-feira, ele estava acompanhado pelo presidente Wagner Pires de Sá e por Marcelo Djian, diretor de futebol. Ceni disse estar vivendo um “momento mágico” e garantiu: a oportunidade de chegar a uma final de Copa do Brasil – está na semifinal, contra o Inter – foi um dos grandes fatos que o motivou a aceitar o desafio de comandar o time celeste.
– Isso aqui é um momento mágico na carreira de qualquer pessoa. de poder chegar num clube como o Cruzeiro, bicampeão (consecutivo) da Copa do Brasil. Temos esse jogo contra o Inter, em Porto Alegre, com todas as dificuldades, favoritismo pelo resultado do primeiro jogo.
“Talvez tenha sido um dos grandes fatos que tenha me trazido aqui. Não se joga fora a oportunidade de ser campeão quando se trata de Cruzeiro. Vamos tentar nos reencontrar nessa competição e, principalmente, no Campeonato Brasileiro”
O Cruzeiro disputa a semifinal com o Internacional, e a ida, no Mineirão, teve vitória gaúcha por 1 a 0. Para avançar à decisão, a Raposa precisa vencer no Beira-Rio, dia 4 de setembro, por dois gols de diferença. Triunfo pela diferença mínima leva a decisão da vaga para os pênaltis.
Rogério Ceni chega à Toca para substituir Mano Menezes, que ficou no Cruzeiro entre julho de 2016 e foi demitido na semana passada, após derrota para o Internacional, na ida da Copa do Brasil. A equipe venceu apenas uma das últimas 19 partidas no ano e está na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.
Ceni desembarcou no aeroporto internacional de Belo Horizonte no início da manhã desta terça-feira e foi direto para a Toca da Raposa, onde assinou o contrato válido até o fim de 2020 e aproveitou para conhecer a estrutura do CT cruzeirense, a qual elogiou bastante.
– Muito bonito (o centro de treinamentos). Eu vim há pouco tempo, vim treinar com o Fortaleza. Conheci só os dois campos do fundo, que são gramados fantásticos. Não conhecia a estrutura interna. Fiquei impressionado. Não imaginava uma condição tão boa pra trabalhar. A bola não entra por acaso, ninguém é campeão seguidamente sem ter uma estrutura como essa. Isso é mais um motivo pra gente tentar reagir o mais rápido possível.
A principal missão dele em 2019 será melhorar o desempenho do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro. A equipe está na zona de rebaixamento, em 17ª, com 11 pontos em 14 rodadas. O time não vence há 11 rodadas na competição. O último triunfo foi sobre o Goiás, na terceira rodada, por 2 a 1, no Mineirão. O primeiro adversário dele no torneio será o líder Santos, no domingo, às 16h (de Brasília), no Mineirão.
Elenco vitorioso
No início desta tarde, Rogério Ceni teve o primeiro contato com o elenco do Cruzeiro, que passa por um momento ruim e que, depois de três anos, terá um comandante diferente. Segundo Ceni, o mais importante neste momento é fazer com que os atletas se sintam bem. Ele ainda fez questão de valorizar os jogadores vencedores que o grupo celeste tem.
– O mais importante, e falei para eles, é que se sintam bem, felizes. É um paraíso poder trabalhar no CT como esse. São extremamente valorizados, têm uma história aqui dentro já construída, a maioria deles. Quem já foi campeão, sabe o caminho. É questão de atitude, de foco mantido. Sabem como é chegar ao título. Quem ganhou uma vez na vida, não esquece o sabor. O sabor da vitória é incomparável.
Ceni afirmou que conta com os jogadores experientes e vitoriosos para fazer um bom trabalho e que espera ser fonte de inspiração para o elenco cruzeirense e reiterou: é possível passar pelo Internacional na Copa do Brasil.
– Acho que a liderança, hoje, vai ser exercida por todos aqueles jogadores com maior experiência, que já conhecem muito a história do Cruzeiro. Jogadores que têm anos de casa, títulos e mais títulos. Espero ser fonte de inspiração pra eles, do desejo de trabalhar todos os dias, da alegria de vir aqui, começar um novo trabalho. Mas eu dependo muito deles. A minha vontade de vencer nunca acabou. Espero contagiá-los. O talento é deles, logicamente há ajustes que a gente pode fazer para ajudar. O desejo de vitória tem que ser deles. O desejo de vitórias tem que estar no campo. É uma partida extremamente difícil (contra o Inter), um time extremamente competitivo. Mas é um resultado possível.
Reforços?
A chegada de um novo treinador levanta, sempre, a expectativa da contratação de reforços. E no Cruzeiro não é diferente, principalmente por estar na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. A posição de mais atenção no momento é o meio-campo. No meio do ano, a equipe perdeu os volantes Lucas Romero e Lucas Silva. Questionado sobre o assunto, Rogério disse que vai observar os atletas da posição que estão no elenco (Ariel Cabral, Henrique, Jadson, Éderson e Adriano).
– Estou atento aos cinco jogadores da posição que o Cruzeiro tem. Quanto ao mercado, acho que é mais fácil o Marcelo (Djian) comentar. Qualquer comentário interno eu acho que a direção fica mais respaldada que eu para falar.
Utilização de Fred
Um dos desafios que Rogério Ceni tem no Cruzeiro é recuperar a boa fase do atacante Fred, que iniciou o ano bem, foi artilheiro do Campeonato Mineiro, mas vive jejum de 16 partidas sem balançar as redes. O novo treinador elogiou as características do centroavante, mas garantiu que vai trabalhar com quem está com a melhor condição física.
– É um jogador de área, apesar de fazer proteção. Boa finalização. Vamos trabalhar com ele igual a um garoto de 20 anos, fazer com que tenha o espírito cada vez mais jovem e tirar o melhor dele. A qualidade eu sei que ele tem. O tempo passa para todos e não é fácil se manter bem fisicamente. Vou dar, neste começo de trabalho, a prioridade a quem tenha condição física. Vou torcer para que ele esteja bem. É um camisa 9 clássico, de área, e espero que ele possa ajudar bastante.
Crise administrativa
Além do momento complicado dentro do campo, o Cruzeiro também passa por uma crise financeira e administrativa sem precedentes na história do clube. Questionado sobre uma possível influência disso no time, Ceni afirmou que, num primeiro contato, não sentiu uma reação do elenco em relação a isso.
– Pelo que vi hoje, pela maneira que vi os jogadores, vejo um ambiente extremamente saudável. Eu sou técnico do Cruzeiro, minha função é dentro das quatro linhas. Não vi absolutamente nada que pudesse provocar uma reação diferente dos atletas. Vamos trabalhar todos os dias. São coisas distintas, eu acho. E também, honestamente, estou chegando agora, não tenho uma noção exata do que se passa. Mas vamos trabalhar com futebol, dentro do campo, preocupado com resultados. E com o futebol, tentando jogar um futebol cada vez melhor.
Trabalho com a base
Rogério Ceni também foi questionado sobre a utilização dos jogadores da base, que passaram a ter mais espaço na equipe principalmente em função das mudanças que o elenco sofreu no meio do ano. Os exemplos: o volante Éderson passou a ter mais oportunidades por causa das saídas de Lucas Romero e Lucas Silva; o lateral-direito Weverton atuou em meio às lesões de Edilson e Orejuela; e Maurício tem entrado nas partidas desde que Rodriguinho foi para o departamento médico. O novo treinador disse que ainda precisa conhecer os jovens do elenco, mas que não vê problema em trabalhar com garotos que sobem da base.
– No São Paulo, quando cheguei, em 2017, o clube não tinha condição de fazer contratações, investir em contratações. Nós puxamos seis ou sete jogadores da base. Jogadores que, juntos, durante aquele mesmo ano, renderam mais de R$ 180 milhões ao clube em vendas. Pra mim, futebol não tem idade. Preciso de caras que tenham alma, coração. Aos 20 ou aos 35 anos, se eles deixarem o melhor deles dentro do campo, pra mim é o que basta. E eu preciso conhecer um pouco mais esses jovens jogadores (do Cruzeiro). Os mais velhos eu enfrentei ao longo da carreira. Os mais jovens vou tentar aprender o mais rápido possível sobre eles. Mas sem problema nenhum, não vejo problema em trabalhar com jogadores que sobem das categorias de base. O bom jogador sempre tem seu espaço.
Herança do Fortaleza
Rogério Ceni iniciou a carreira de treinador em 2017 e onde ele atuou em todos os anos da trajetória como goleiro: no São Paulo. O desempenho irregular acarretou na demissão em julho daquele ano, tendo comandado o time em 37 partidas, com 14 vitórias, 13 empates e dez derrotas, acumulando 49,5% de aproveitamento. No início de 2018, Ceni assumiu o comando do Fortaleza e lá conseguiu desempenhar um ótimo trabalho. Conquistou a Série B do ano passado e, neste ano, conduziu a equipe nordestina aos títulos do Campeonato Cearense e da Copa do Nordeste. O treinador falou o que traz do Leão do Pici:
– O que eu trago (do Fortaleza)? A inspiração, a transpiração, o que aqueles caras (jogadores do Fortaleza) me ensinaram como treinador. A motivação. Sou um cara que está começando a carreira de treinador, tenho três anos como treinador de futebol. Ter a oportunidade de trabalhar em um clube desse tamanho é sinônimo de energia, de fazer com que as coisas aconteçam, de tentar ajudar os jogadores, que são os protagonistas, a desempenharem melhor o seu papel. Eu posso dar a direção, mostrar o caminho, achar os buracos do jogo, mas aos protagonistas, que são eles, cabe decidir as partidas.
Relação com o Cruzeiro
A relação de Rogério Ceni com o Cruzeiro vem desde os tempos de jogador. Ele era dono da bola parada do São Paulo, e seis dos 131 gols que ele marcou, entre cobranças de faltas e pênaltis, foram na Raposa, maior vítima dele na carreira.
– Não existe vítima. Eu fiz gols, mas tomei muitos. Talvez eu fui mais vítima. Perdi uma Copa do Brasil aqui, em 2000. E a minha última Libertadores acabou aqui no Mineirão, em 2015. Eu peguei pênalti, o Fábio pegou também e eliminou o meu último sonho de ser campeão da Copa Libertadores. Sofri muito com o Cruzeiro. Mais do que os gols feitos, sofri pelo grande clube que é.
Antes de ser a maior vítima de Rogério, o Cruzeiro esteve perto de tê-lo como defensor da meta celeste. O agora treinador relembra o quase acerto, que aconteceu em 2000, e disse que espera construir uma longa história na Raposa.
– Vai fazer 20 anos isso. O goleiro do Cruzeiro era o André. Naquele momento, houve uma possibilidade de negociação do André para o São Paulo e minha vinda ao Cruzeiro. Mas não se concretizou. Construí minha história como atleta toda no São Paulo e hoje espero começar a construir história longa no Cruzeiro. Assim espero.
*Por Globoesporte